O 'Estado' acompanhou um dia de trabalho dos estagiários Caio Blanco ( esq.) e Victor Paollilo no Google Brasil
Werther Santana/Estadão
Quem assiste ao filme Os Estagiários, em que os personagens de Vince
Vaughn e Owen Wilson, depois de terem perdido o trabalho como vendedores
e mesmo sem entender de tecnologia, disputam com universitários as
vagas de um programa do Google, pode imaginar que a rotina de um
estagiário da gigante mundial de tecnologia é de pura competição entre
gênios da internet. Também pode pensar que a sede da empresa parece um
espaço de férias, com todo o tipo de comida 24 horas, salas de jogos e
redes por todo o canto.
Uma parte do que é retratado no filme é realmente verdade para os
estagiários da empresa no Brasil. Por outro lado, muito do que se passa
no filme é mito. A convite do Google, o Estado
acompanhou um dia na rotina de dois ex-estagiários da empresa em São
Paulo, Victor Paolillo Neto, de 23 anos, e Caio Blanco Reis dos Santos,
de 24. Eles fizeram parte da turma de 2013 e foram efetivados na semana
da visita da reportagem.
Do café da manhã até o fim da jornada, os mais variados tipos de
alimentos estão disponíveis para todo mundo – e de graça. O menu vai de
chicletes e balas a refeições completas. "Nos primeiros meses aqui
engordei alguns quilos", afirma Paolillo Neto.
Chinelos, sandálias e bermudas são trajes comuns de muitos "googlers"
(termo usado para quem trabalha no Google), nos Estados Unidos – e
também no Brasil. Na sede tupiniquim não é raro ver grupos de trabalho
se reunindo em espaços com redes, encontrar funcionários em mesas de
sinuca ou em salas de jogos.
Depois do café da manhã com outros funcionários, eles começam
efetivamente a rotina de trabalho, repleta de reuniões e atividades. As
reuniões podem ocorrer fora das tradicionais mesas de trabalho,
divididas por baias, em espaços alternativos, rodeados por pufes e
sofás, ou em mesas em varandas do luxuoso prédio da Avenida Brigadeiro
Faria Lima, na zona oeste paulistana.
Apesar do clima aparente de férias, a concorrência para o programa de
estágios é acirrada. São mais de cem candidatos disputando cada uma das
vagas, competição maior que a do curso mais concorrido neste ano no
vestibular da Universidade de São Paulo (USP) – Medicina em Ribeirão
Preto, com 62,91 candidatos por vaga. Para a seleção deste ano, estão
sendo oferecidas cerca de 30 vagas para as áreas de vendas, engenharia
de vendas, marketing, produto e direito.
A entrevista de seleção, como no filme, ocorre por videoconferências.
"No modelo presencial, muitos estudantes acabavam por se inibir ou, por
estarem em outro Estado ou País, não participam das dinâmicas de grupo.
Dessa forma também conseguimos selecionar estudantes de todo o País",
afirma Daniel Borges, gerente de atração de jovens talentos para a
América Latina. No ano passado, um dos selecionados, conta Borges, fez
todo o processo de seleção enquanto realizava um intercâmbio acadêmico
na Rússia.
A seleção se inicia sempre no começo do ano e dura cerca de seis
meses. Os estagiários selecionados estão sempre nos últimos períodos da
faculdade e ficam no cargo por seis meses. "A gente consegue em seis
meses tomar uma decisão de contratar ou não uma pessoa dentro dessas
áreas. O objetivo do programa é a efetivação", afirma Borges.
Embora não digam quanto ganham os estagiários, tanto a empresa quanto
ex-estagiários afirmam que é um valor acima do que é pago no mercado de
trabalho. Estagiar no Google pode ser uma "vitrine" tanto para os
escritórios da empresa no Brasil como em outras sedes pelo mundo. As
equipes de recrutamento e seleção são interligadas e um recrutador ou
gestor do Brasil pode indicar um estagiário para uma vaga no exterior.
No ano passado, por exemplo, dois estagiários foram trabalhar no Google
da Irlanda.
Ajuda. Mas trabalhar em uma das maiores empresas de
tecnologia do mundo não é festa. Os estagiários têm de atingir metas e
cumprir desafios. A agenda de trabalho é anotada no Google Calendar e
qualquer funcionário pode ver as demandas de trabalho dos demais –
incluindo dos chefes de equipe. O clima de competição, contudo, não
chega nem perto do filme. "As pessoas se ajudam aqui. É um trabalho em
equipe. Existe uma plataforma interna para agradecer quem te ajudou no
trabalho, o que incentiva as pessoas a colaborarem entre si", comenta
Paolillo Neto.
Como participar do processo seletivo:
Para participar do processo de seleção é preciso estar no último ano
da faculdade. Não importa a área, a faculdade em que o aluno esteja
cursando a graduação ou em que Estado ele vive. Neste último caso, é
preciso lembrar que os seis meses de estágio ocorrem na sede da empresa
em São Paulo, então o candidato selecionado tem de se mudar.
Em 2013, 15% dos alunos não eram paulistas. Segundo a equipe de recrutamento, já foram selecionados estudantes do Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Minas Gerais, Pernambuco, Santa Catarina e Bahia, entre outros Estados.
Como o escritório do Google em São Paulo é focado na área de vendas, há mais vagas destinadas a esse setor, mas também há oportunidades para os departamentos de direito, marketing e produto.
Entre os pré-requisitos está a fluência no inglês – muitas das etapas da entrevista são feitas nesse idioma e o dia a dia dos funcionários exige domínio do inglês.
Alunos brasileiros que estão cursando MBA nos Estados Unidos e na Europa podem fazer os estágios de verão do Hemisfério Norte no Google Brasil. Mais informações: google.com/students.
Em 2013, 15% dos alunos não eram paulistas. Segundo a equipe de recrutamento, já foram selecionados estudantes do Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Minas Gerais, Pernambuco, Santa Catarina e Bahia, entre outros Estados.
Como o escritório do Google em São Paulo é focado na área de vendas, há mais vagas destinadas a esse setor, mas também há oportunidades para os departamentos de direito, marketing e produto.
Entre os pré-requisitos está a fluência no inglês – muitas das etapas da entrevista são feitas nesse idioma e o dia a dia dos funcionários exige domínio do inglês.
Alunos brasileiros que estão cursando MBA nos Estados Unidos e na Europa podem fazer os estágios de verão do Hemisfério Norte no Google Brasil. Mais informações: google.com/students.
DEPOIMENTO:
Eu sempre estagiei na área de direito e comecei muito cedo. Entrei na
Faculdade de Direito do Largo de São Francisco da Universidade de São
Paulo (USP) e em abril já estava estagiando. Passei por grandes
escritórios de advocacia, banco de investimentos, trabalhei até como
professor de teatro em inglês. Fiz muita coisa e sabia que não queria
trabalhar em um ambiente tão ortodoxo e engessado. Estava um pouco
descontente com o que fazia no meu último emprego e procurando algo
diferente.
A minha primeira opção era ser ator e só queria pensar em artes.
Nessa mesma época, um amigo meu me falou sobre o processo seletivo do
Google. Resolvi participar e acabei passando. Foi uma surpresa. Foram
quatro meses de processo e cinco entrevistas por Hangout, além de
testes. Uma coisa que eu sabia no processo seletivo é que não queria
trabalhar com direito e falei isso na seleção. Se eu fosse voltar para o
mundo corporativo, era para tentar algo novo. Eu queria tratar com
pessoas e unir isso com o meu lado criativo e a minha vontade de
trabalhar com arte.
Quando eu entrei, fui direto para a área comercial, que era a minha
primeira opção. Queria entrar em uma área totalmente diferente da minha
formação e consegui. Uma das coisas mais interessantes é que eles não
focam na sua formação acadêmica, mas no seu perfil e nas suas
habilidades. Eu era um analfabeto digital e isso não me impediu de parar
em uma empresa de tecnologia, pois recebi o treinamento técnico.
Trabalhava só com papel e hoje não tenho nenhum papel na minha mesa.
Fonte: Estadao.

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